Especialistas citam lugares como Portugal, onde os docentes têm plano de carreira, o que ajuda a elevar o salário e o status dos profissionais
O Brasil avançou na universalização do ensino, mas ainda precisa investir, e muito, em qualidade. Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de 2009, indicam que nem 35% dos alunos das séries avaliadas (5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio) possuem aprendizado adequado, seja em Língua Portuguesa seja em Matemática. É por essas e outras que em 2011 o país ficou em 88° lugar no ranking de educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na lista, que tem 127 posições, o Brasil ficou atrás de Argentina, Chile, Equador e Bolívia.
No relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), divulgado em 2010, entre os 65 países analisados, o Brasil ocupava a 53ª posição. Mas, em que outras nações o Brasil poderia se inspirar para melhorar o sistema educacional? A professora Libânia Nacif Xavier, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), cita o exemplo de Portugal, que tem um plano de carreira para professores, o que ajuda a elevar o salário e o status do profissional.
“Eles têm uma associação chamada Movimento da Escola Moderna, que reúne professores de todos os níveis de ensino para que troquem experiências. Depois eles voltam para a escola e aplicam o que acham interessante. Os alunos também produzem conhecimento, de forma organizada, em parceria com os docentes. O profissional procura a associação porque quer, porque vê valor no projeto. No final do semestre, eles mostram os trabalhos que fizeram com os alunos. Acho a ideia da cooperação muito interessante e inovadora, algo que poderia ser adotado no Brasil”, explica a professora.
A Finlândia é conhecida por estar sempre no topo das listas de avaliações internacionais de ensino, e uma das possíveis explicações para isso é o investimento na formação de professores. O título de mestrado é exigido inclusive para os educadores do Ensino Básico. Nos anos 70 foi realizada uma ampla reforma educacional, que colocou a qualificação dos docentes como uma das metas. Atualmente, a profissão é uma das mais disputadas (somente 10% dos candidatos são aprovados) e muitos estudantes desejam seguir a carreira. “A Finlândia é o crème de la crème da educação, mas o modelo é muito difícil de ser replicado. Outro país que têm um sistema educacional reconhecido é Cuba, onde os professores são treinados para aplicar um determinado currículo. Mas fazer isso em uma ilha é mais fácil, não é esse caleidoscópio que é o Brasil, com teorias educacionais díspares e onde não há uma definição clara do que o professor vai fazer na escola. É como formar um médico sem haver articulação com o sistema de saúde”, explica a professora Guiomar Namo de Melo, diretora da Escola Brasileira de Professores (Ebrape).
E o que dizer da China, que ficou em 1º lugar no relatório Pisa 2010? Para a professora Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o trabalho que o país faz para tornar mais reconhecida a carreira docente é realmente sensacional, mas ela faz ressalvas: “Tenho restrições a citar a China porque lá a escola não é para todos, é para Pequim e Xangai. Na minha opinião, Cuba é um dos melhores exemplos de formação de professores. Quando o docente tem dificuldade, ele pode voltar para a universidade e mesmo deixar a sala de aula, se não dá conta do recado. Isso mostra que o sistema tem muita maturidade”, ressalta.
Carlos Artexes, professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet) do Rio de Janeiro e ex-diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), participou em 2011 de um encontro para analisar experiências internacionais de carreira docente em diversos países, como Brasil, México, Estados Unidos, Canadá, Chile, Equador e Israel. Entre as conclusões a que o grupo de professores participantes chegou está a de que grandes reformas estruturais ou mudanças de currículo tendem a fracassar caso não se melhore o processo de ensino e aprendizagem. Para o grupo, é importante que o docente possa desenvolver suas habilidades (o magistério não deve ser a última opção), e que os jovens professores recebam atenção e apoio para melhorar seu desempenho.
Fonte: Undime
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